Carolina de Paula
O final do ano legislativo se aproxima. E os olhos dos analistas da política já começam a mirar o pleito municipal de 2024. Da perspectiva de uma parcela significativa dos deputados, federais e estaduais, o próximo ano também difere do atual, afinal, é “ano de dobradinha”. Na Ciência Política não existe consenso referente a influência– ou effect cocktail – das eleições municipais nas eleições gerais. Há quem descreva os efeitos de eleições locais sobre os resultados eleitorais de outros níveis como effect cocktail reverso ou identifique o fenômeno, pejorativamente, como clientelismo, como se fosse um eterno “eu te ajudo e você me ajuda”. Mesmo sem o consenso da academia no que tange a conexão dos pleitos – municipais e estaduais – notamos que as siglas, ao menos as mais sólidas, apresentam preocupações para esses efeitos.
Em 2012, o PT, por exemplo, comandava 638 cidades, um feito notável. Entretanto, nas eleições municipais de 2020, o partido elegeu apenas 183 prefeitos, registrando seu pior desempenho desde o ano 2000. A perda do comando de 71 prefeituras em relação ao pleito anterior foi um golpe, e o partido também não conseguiu eleger nenhum prefeito em uma capital pela primeira vez desde a redemocratização. Além disso, o PT perdeu sua influência nas prefeituras das 26 capitais e nos municípios com mais de 200 mil eleitores, o que compõe o grupo chamado de G26, que engloba as cidades mais importantes do país. Com a volta de Lula ao Planalto, o PT está se preparando para recuperar sua relevância no cenário político municipal. Uma resolução publicada pelo Diretório Nacional em agosto desse ano enfatizou a importância de se concentrar nos grandes centros e destacou a necessidade de dar atenção especial aos pequenos municípios para construir ou reconquistar bancadas.
Talvez, a falta de consenso da academia sobre a relação entre os pleitos deriva de uma tentativa excessivamente focada em analisar a perspectiva da “coordenação doa partidos políticos” ou suas dinâmicas internas de gestores desse processo. Não se trata aqui de negar a importância dos partidos como atores centrais da vida política brasileira ou emitir algum juízo de valor sobre a robustez das nossas instituições. Porém, alguns fenômenos passarão despercebidos se toda a análise buscar apenas nos partidos políticos a explicação das dinâmicas políticas.
Pesquisas qualitativas que começam em anos pré-eleitorais, especialmente em municípios pequenos e médios, mostram que os deputados estaduais e federais já atuam desde já como “brokers” de seus candidatos a vereadores e prefeitos, assim como esses últimos atuaram no pleito anterior para os seus deputados. Os eleitores entrevistados nas pesquisas avaliam que a política local é formada também pelas figuras que os representam nas Assembleias Legislativas e na Câmara dos Deputados, já que as reuniões e eventos nos bairros são conjuntos e o exemplo mais óbvio dessa dobradinha. Afinal, como diz o ditado, “toda política é local”.
No entanto, quando falamos das eleições municipais, também não podemos ignorar o papel dos governadores na formação das alianças partidárias em seus estados. Pelas eleições anteriores, sua capacidade de influenciar a estratégia de seus partidos é expressiva, e não há motivos para acreditar que isso mudará em 2024. Portanto, as próximas eleições ocorrerão em meio a esse contexto, com a lógica distinta do debate da campanha levando em consideração o tamanho populacional das cidades e a influência dos governadores nas estratégias partidárias.
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